Maria intercede sem cessar pelos pecadores. Afirma o Beato Amadeu que nossa Rainha está na presença da Divina Majestade, continuamente intercedendo por nós com as Suas poderosas orações. Profunda conhecedora que é de nossas misérias e aflições, não pode desapiedar-Se de nós. Levada pelos sobressaltos de um Coração maternal, compassivo e benigno, procura como nos socorrer. A cada um de nós, por miserável que seja, exorta por isso Ricardo de S. Lourenço a recorrer confiadamente a tão amável advogada, na firme certeza de achá-La pronta a vir em nosso auxílio. Ela está sempre disposta a orar por todos, escreve Godofredo, abade.
Oh! com quanta eficácia e amor, diz S. Bernardo, não trata esta nossa advogada do problema de nossa salvação! Não cessa Conrado de Saxônia de admirar o afeto e o empenho com que Maria continuamente intercede por nós junto à Divina Majestade e para nós pede o perdão, o auxílio das graças e o livramento dos perigos, bem como a consolação nos sofrimentos. Em seguida a Ela se dirige nestes termos:
Confessamos que no Céu só temos a Vós como única solícita protetora.
Quer ele dizer:
É verdade que todos os Santos interessam-se por nossa salvação e pedem por nós; mas a caridade e ternura demonstrada por Vós, alcançando-nos tantas misericórdias de Deus, nos obrigam a declarar-Vos como nossa única advogada no Céu, a única que no verdadeiro sentido da palavra é amante e solícita de nossa salvação.
E como é grande essa solicitude de Maria em falar continuamente em nosso favor junto de Deus! Quem poderá medi-la jamais? No ofício de proteger-nos não conhece a Virgem o que seja fadiga, diz S. Germano. Que bela palavra! Maria roga e sempre torna a rogar por nós e não Se cansa de o fazer, para nos livrar dos males e nos obter as graças. A tal ponto chega Sua compaixão perante nossas misérias e Seu amor para conosco!
Pobres pecadores! Que seria de nós, se não tivéramos esta grande advogada! Quanto A considera Seu Filho e nosso Juiz por causa da compaixão, da prudência que nela encontra! Tanto A considera, que não pode condenar pecador algum que se acha sob Seu patrocínio, diz Ricardo de S. Lourenço. Por isso, João, o Geômetra, a saúda dizendo-lhe:
Salve, ó Vós que sois o direito que resolve todas as demandas!
Isto é:
Em toda demanda ganha aquele a cujo lado está essa mui sábia advogada.
De sábia Abigail Lhe chama por isso Conrado de Saxônia. Essa foi aquela mulher que soube tão bem aplacar com os seus eloquentes rogos o rei Davi, quando estava irritado contra Nabal. E bendisse-a Davi, agradecendo-lhe porque o livrara de vingar-se de Nabal com sua própria mão (1Rs 25,24ss). Exatamente o mesmo faz Maria no Céu, sem cessar, em favor dos inumeráveis pecadores. Pois sabe muito bem com Suas meigas e prudentes súplicas aplacar a justiça de Deus. Louva-A por isso Deus e quase Lhe agradece, porque O detém de castigar os culpados como mereciam.
Maria, a fiel cópia da misericórdia divina. Foi para dispensar-nos todas as misericórdias possíveis, afirma S. Bernardo, que o Eterno Pai, além de Jesus Cristo, nosso principal advogado, nos deu ainda Maria Santíssima como advogada. Não há dúvida, Jesus é o único medianeiro de justiça entre Deus e os homens, o único que em virtude dos próprios méritos nos pode obter graça e perdão, e de acordo com Suas promessas também o quer. Mas como em Jesus Cristo reconhecem e temem os homens a majestade divina, aprouve a Deus dar-nos outra advogada a quem recorrer pudéssemos com maior confiança e menor receio. E temo-la em Maria, fora de quem não acharemos outra nem mais poderosa para a Divina Majestade, nem mais misericordiosa para conosco. Grande injúria faz à piedade desta amável advogada quem se intimida de vir à Sua presença. Pois Ela nada tem de severo e terrível, mas é toda suavidade, toda clemência, toda amabilidade. Lê e relê quanto quiseres, prossegue S. Bernardo, o que está escrito nos Santos Evangelhos, e se encontrares um só ato de severidade em Maria, então teme chegar-te a Seus pés. Mas o não acharás em parte alguma. Recorre, pois, a Ela alegre e confiadamente, que por Sua intercessão ela te salvará.
Belíssimas são as palavras que Guilherme de Paris faz o pecador pronunciar diante de Maria:
Ó Mãe de meu Deus! Reduzido à miséria por muitos pecados, a Vós recorro cheio de confiança. Se me repelirdes, mostrar-Vos-ei que estais em certo modo obrigada a ajudar-me, porque toda Igreja dos fiéis chama e clama que sois Mãe de Misericórdia. Porque Deus muito Vos quer, também sempre atende Vossos rogos. Jamais falhou Vossa grande piedade; Vossa dulcíssima afabilidade repeliu nunca pecador algum, ainda de todos o maior, que a Vós se tenha recomendado. Como então? Será falsamente ou em vão que a Igreja toda Vos denomina advogada sua e refúgio dos miseráveis? Que minhas culpas, ó minha Mãe, não Vos impeçam de exercer esse grande ministério de misericordiosa advogada e medianeira de paz entre Deus e os homens, como seguro refúgio e única esperança dos miseráveis. A quem deveis Vossa riqueza em graça e em glória e mesmo Vossa dignidade de Mãe de Deus? Posso dizê-lo? Deveis aos pecadores tudo quanto possuís; por causa deles o Verbo de Deus Vos elegeu para Sua Mãe.
Sois a Mãe de Deus, abristes para o mundo a fonte de piedade, e por isso longe esteja de nós o pensamento de que fechar-se possa Vosso compassivo coração perante um miserável e abandonado. Assim, pois, já que é Vosso ofício ser medianeira entre Deus e os homens, assisti-me pela Vossa grande bondade, a qual é incomparavelmente maior que todos os meus pecados.
EXEMPLO
S. Pedro Damião conta-nos o seguinte de seu irmão Marino, apoiando se no testemunho de um outro seu irmão, que se fez monge depois de haver deixado o arquidiaconato. Marino pecara gravemente contra a pureza e pouco depois fora rezar diante de um altar de Nossa Senhora, e a Ela se consagrou. Em sinal de sua entrega, cingiu o pescoço com uma corda e disse à Mãe de Jesus: Ó Senhora, espelho da pureza, eu, miserável pecador, ofendi a Deus e a Vós, faltando contra essa virtude. Não conheço remédio melhor do que me me consagrar ao Vosso serviço. Eis que por isso eu me consagro a Vós; aceitai este rebelde e não me desprezeis. Deixou ao pé do altar uma quantia de dinheiro e prometeu todos os anos pagar a mesma importância, em sinal de sua escravidão. Estando para morrer, depois de uma longa vida passada no temor de Deus, disse: Levantai-vos, levantai-vos; mostrai à Senhora o vosso respeito. Que extraordinária graça me dispensais, ó Rainha do Céu, dignando-Vos visitar o Vosso escravo. Abençoai-me, minha Senhora, e não permitais que eu me perca, depois de haver recebido a Vossa visita. – Nesse ínterim chegou seu irmão Damião. A este Marino falou da visão e da bênção que Nossa Senhora lhe dera. Ao mesmo tempo queixou-se de que os presentes tinham ficado assentados, quando Maria apareceu. Pouco depois entregou sua alma a Deus.
ORAÇÃO
Ó grande, excelsa e gloriosíssima Senhora, prostrados aos pés do Vosso Trono, nós Vos rendemos nossas homenagens, daqui deste vale de lágrimas. Nós nos comprazemos na glória imensa, de que Vos enriqueceu o Senhor . Agora que já reinais como Rainha do Céu e da Terra, ah! não nos esqueçais, pobres servos Vossos. Não Vos dedigneis, desse excelso sólio em que reinais, de volver Vossos piedosos olhos a nós miseráveis. Vós, quanto mais vizinha estais da fonte das graças, tanto mais nos podeis delas prover . No Céu, descobris melhor as nossas misérias, portanto é preciso que tenhais maior compaixão de nós e mais nos socorrais. Fazei que sejamos na Terra Vossos fiéis servos, para podermos mais tarde bendizer-Vos no paraíso. Neste dia em que fostes feita Rainha do universo, nós nos queremos consagrar ao Vosso serviço. No meio de Vossa grande alegria, consolai-nos também, aceitando-nos hoje por Vossos vassalos. Sois Vós a nossa Mãe. Ah! Mãe suavíssima, Mãe amabilíssima, vossos altares estão rodeados de muita gente que vos pede: uns Vos pedem a cura de suas enfermidades, outros o Vosso auxílio em suas necessidades; outros, uma boa colheita; outros, a vitória em qualquer demanda. Nós, porém, Vos pedimos graças mais agradáveis ao Vosso Coração. Alcançai-nos o ser humildes, desapegados da Terra, e resignados à divina vontade. Impetrai-nos o santo amor de Deus, a boa morte, o paraíso. Senhora, mudai-nos, mudai-nos de pecadores em santos. Fazei este milagre, que Vos dará mais honra que se désseis a vista a mil cegos e ressuscitásseis mil mortos. Vós sois tão poderosa junto de Deus. Basta dizer que sois Sua Mãe, a mais querida, cheia da Sua graça: que Vos poderá Ele recusar? Ó Rainha formosíssima, nós não pretendemos ver-Vos na Terra, mas queremos ir ver-Vos no paraíso. A Vós compete alcançar-nos esta graça. Assim o esperamos decerto. Amém, amém.
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