top of page
Foto do escritorApostoli Christi

5 de Maio - Maria Santíssima Rainha de Misericórdia




 

Maria é, pois, Rainha. Mas saibamos todos, para consolação nossa, que é uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a favorecer e fazer bem a nós, pobres pecadores. O próprio nome de Rainha, considera S. Alberto Magno, denota piedade e providência para com os pobres, enquanto que o de imperatriz dá ares de severidade e rigor. A magnificência dos reis e das rainhas consiste em aliviar os desgraçados, diz Sêneca. Enquanto que os tiranos governam tendo em vista seu interesse pessoal, devem os reis procurar o bem de seus vassalos. Por isso na sagração dos reis se lhes unge a testa com óleo. É o símbolo da misericórdia e benignidade de que devem estar animados para com seus súditos.


Devem, pois, os reis principalmente empregar-se nas obras de misericórdia, mas sem omitir, quando necessária, a justiça para com os réus. Não assim Maria. Bem que seja Rainha, não é rainha de justiça, zelosa do castigo dos malfeitores. É Rainha de Misericórdia, inclinada só à piedade e ao perdão dos pecadores. Por isso quer a Igreja que expressamente Lhe chamemos Rainha de Misericórdia.


Eu ouvi – diz o Salmista – estas duas coisas: que o poder é de Deus e que é Vossa a misericórdia (Sl 61,12,13). Considerando o afamado chanceler de Paris, João Gerson, as palavras de Davi, disse: Consistindo o reino de Deus na justiça e na misericórdia, o Senhor dividiu: o Reinado da Justiça reservou-O para Si, e o Reinado da Misericórdia o cedeu a Maria. E ainda o Senhor ordenou que pelas mãos de Maria passariam, e a Seu arbítrio seriam conferidas todas as misericórdias dispensadas aos homens. Isto mesmo confirma um escritor no prefácio das Epístolas canônicas, escrevendo: Quando a Santíssima Virgem concebeu o Divino Verbo e deu à luz, obteve metade do Reino de Deus; tornou-Se Rainha de Misericórdia e Jesus ficou sendo Rei da Justiça.


O Eterno Pai constituiu Jesus Cristo Rei de Justiça e fê-Lo, por conseguinte, Juiz universal do mundo. Vem daí a exclamação do Salmista: Dai, ó Deus, ao Rei a Vossa equidade, e ao Filho do Rei a Vossa Justiça (Sl 71,2). Pelo que diz um douto intérprete; Senhor, destes ao Vosso Filho a Justiça, porque à Mãe do Rei entregastes a Misericórdia. Aqui S. Boaventura tece belo comentário à citada passagem, dizendo: Dai, ó Deus, Vosso Juízo ao Rei e Vossa Misericórdia à Sua Mãe. Ernesto, Arcebispo de Praga, também diz que o Eterno Pai deu ao Filho o ofício de julgar e punir, e à Mãe o ofício de socorrer e aliviar os miseráveis. Por isso profetizou o mesmo profeta Davi que o próprio Deus (por assim dizer) consagrou Maria Rainha de Misericórdia, ungindo-a com óleo de alegria. “Por isso Te ungiu o Teu Deus com o óleo da alegria” (Sl 44,8). E isso para que todos nós, miseráveis filhos de Adão, nos alegrássemos, considerando que temos no Céu esta Rainha toda cheia de unção, misericórdia e piedade para conosco, observa Conrado de Saxônia.


Muito bem aplica S. Alberto Magno a este propósito a história da rainha Ester, que foi figura de Maria, nossa Rainha. No cap. 4 do livro de Ester, lê-se que, reinando Assuero, saiu um decreto condenando à morte todos os judeus. Então, Mardoqueu, que era um dos condenados à morte, recomendou sua salvação a Ester. Pediu-lhe que interpusesse o seu valimento junto ao rei, a fim de que revogasse a sentença. Ao princípio, Ester recusou fazer este favor, temendo irritar ainda mais Assuero. Repreendeu-a Mardoqueu, mandando-lhe

dizer que não pensasse só em salvar-se a si, pois o Senhor a tinha posto sobre o trono para obter a salvação de todos os judeus. “Não te persuadas de que, por isso que estás na casa do rei, salvarás tu só a vida entre todos os judeus” (Est 4,13). Essas palavras de Mardoqueu a Ester, nós, pobres pecadores, podemos repeti-las a Maria, nossa Rainha, se Ela em algum tempo se recusar alcançar-nos de Deus o perdão do castigo, de nós bem merecido. Não cuideis, Senhora, que Deus Vos elevou a ser Rainha do mundo só para bem Vosso. Se tão grande Vos fez, é para que mais Vos compadecêsseis, e melhor pudésseis socorrer nossas misérias.


Assuero, quando viu Ester, na sua presença, lhe perguntou com agrado o que lhe vinha pedir: Qual é o teu pedido? Respondeu-lhe a rainha: Meu rei, se em algum tempo achei graça a teus olhos, dá-me o meu povo, pelo qual te rogo (7,3). E Assuero a ouviu e atendeu, ordenando logo que se revogasse a sentença. Ora, se Assuero, por amor a Ester, lhe concedeu a salvação dos judeus, como poderá Deus, cujo amor por Maria é sem medida, deixar de ouvi-La quando pede pelos pobres pecadores, que a Ela se recomendam?


Se em algum tempo achei graça aos Teus olhos, dá-Me o Meu povo – repete-Lhe a Virgem Santíssima.

Bem sabe a divina Mãe, que é bendita e bem-aventurada, que é a única entre as criaturas que achou a graça perdida pelos homens. Bem sabe que é a predileta de Seu Senhor, por Ele querida acima de todos os Anjos e Santos.


Se Me amais, Senhor, − diz-Lhe então – dai-Me esses pecadores pelos quais Vos rogo.

E é possível que o Senhor a deixe desatendida? Quem ignora o poder das preces de Maria junto de Deus? A lei da clemência está em Sua língua, diz o Sábio (Pr 31,26). Toda súplica Sua é como uma lei estabelecida pelo Senhor, para que Se use de misericórdia com todos aqueles por quem Maria interceder. O autor dos Sermões sobre a Salve-Rainha indaga por que motivo a Igreja intitula Maria Santíssima Rainha de Misericórdia. E responde: Para que acreditemos que Maria abre o oceano imenso da misericórdia de Deus a quem quer, quando quer e como quer. Pelo que não há pecador, nem o maior de todos, que se perca, se Maria o protege.


 


EXEMPLO

Célebre é a história de S. Maria Egipcíaca, que se lê no livro primeiro das Vidas dos Padres no deserto. Com doze anos fugiu ela da casa paterna e foi para Alexandria. Aí passou uma vida infame, e veio a ser o escândalo daquela cidade. Depois de passar 16 anos em pecados, foi peregrinando até Jerusalém. Celebrava-se então na cidade a festa da Exaltação da Santa Cruz. Movida antes pela curiosidade do que pela devoção, quis a pecadora entrar na igreja. Mas no limiar da porta sentiu uma força invisível que a repelia para trás. Intentou segunda vez entrar e também foi repelida. O mesmo lhe sucedeu terceira e quarta vez. Então, encostando-se a miserável a um canto do pórtico da igreja, foi iluminada para conhecer que, por sua má vida, Deus a tocava para fora da igreja. Levantando depois os olhos, por felicidade sua, viu uma imagem de Maria que estava pintada no pórtico. Voltando-se para ela, disse-lhe entre lágrimas: Ó Mãe de Deus, tende piedade desta pobre pecadora. Bem vejo que pelos meus pecados não mereço que olheis para mim; mas sois o refúgio dos pecadores; por amor de Jesus, Vosso Filho, ajudai-me. Fazei que eu possa entrar na igreja, pois quero mudar de vida e ir fazer penitência aonde Vós me ordenardes.


Ouviu então uma voz interna, como se a bem-aventurada Virgem lhe respondesse: Eia, já que a Mim recorreste e queres mudar de vida, entra na igreja, que já a sua porta não se fechará para ti. Entra a pecadora, adora a Santa Cruz e chora. Torna à imagem e Lhe diz: Senhora, aqui estou pronta; para onde queres que me retire a fazer penitência? – Vai, respondeu-lhe a Virgem, para o Jordão e acharás o lugar do teu repouso. A pecadora confessa-se, comunga, passa o rio, chega ao deserto e aqui entendeu que era o lugar da sua penitência. Ora, nos primeiros dezessete anos, que combates lhe não deram os demônios, desejosos de vê-la recair! Então que fazia ela? Nada mais que encomendar-se a Maria. E Maria lhe alcançou força para resistir em todos os anos de luta, depois dos quais cessaram as batalhas. Finalmente, depois de ter vivido cinquenta e sete anos naquele deserto, achando-se na idade de oitenta e sete anos, permitiu a divina Providência que fosse encontrada pelo abade S. Zózimo. A ele contou ela toda a sua vida e pediu-lhe que tornasse ali no ano seguinte e lhe trouxesse a Sagrada Comunhão. Volta com efeito o santo abade e dá--lhe a Comunhão. Depois a Santa lhe tornou a pedir que viesse outra vez visitá-la. Retorna novamente S. Zózimo e a encontra morta, com o corpo cercado de luzes e na cabeça escritas estas palavras: Sepulta neste lugar o corpo desta miserável pecadora e roga a Deus por mim. – Sepultou-a o Santo na cova, que veio abrir um leão. Voltando para seu mosteiro, publicou as maravilhas que a divina Misericórdia operara com esta feliz penitente.


 


ORAÇÃO

Ó Virgem excelsa, sei que sois Rainha do universo e minha Rainha também. Quero, porém, de um modo mais especial, consagrar-me ao Vosso serviço, para que disponhais de mim segundo Vosso beneplácito. Exclamo, pois, com S. Boaventura: Ó minha soberana, à Vossa soberania me entrego, para que domineis conforme o Vosso arbítrio sobre tudo quanto tenho e sou; não me abandoneis. Governai-me, dai-me Vossas ordens, de mim disponde à Vossa vontade. Castigai-me, até quando for desobediente, porque muito salutares me serão os Vossos castigos. Considero maior ventura ser um Vosso servo que ser senhor do universo. Sou Vosso; salvai-me. Aceitai-me, ó Maria, como Vosso servo e cuidai da minha salvação. Já não quero pertencer-me a mim mesmo; a Vós me dou. E se mal até agora Vos tenho servido, deixando de honrar-Vos em tantas ocasiões, quero para o futuro associar-me a Vossos mais devotados servos. Sim, ó amabilíssima Rainha, de hoje em diante mais do que ninguém Vos hei de amar e honrar. Assim o prometo e assim espero executá-lo com o Vosso auxílio. Amém.


- Santo Afonso Maria de Ligório


 


145 visualizações

Posts recentes

Ver tudo

コメント


bottom of page