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Foto do escritorApostoli Christi

3 de Maio - Maria Cheia de Graça para nos Salvar



 

Inegavelmente foi a alma de Maria a mais bela que Deus criou. Depois da Encarnação do Verbo foi esta a obra mais formosa e mais digna de si, feita pelo Onipotente neste mundo. Uma maravilha enfim que só é excedida pelo próprio Criador, como diz Nicolau, monge. Por isso não desceu a graça em Maria gota a gota, como nos outros santos. Desceu, ao contrário, tal como “a chuva sobre o velo” (Sl 71,6). Semelhante à lã do velo, sorveu a Virgem com alegria toda a grande chuva de graça, sem perder uma só gota.


Era-Lhe, pois, lícito exclamar: Na plenitude dos santos está minha morada (Eclo 24,16). Isto significa, conforme a explicação de S. Boaventura: Possuo em sua plenitude o que só em parte possuem os outros santos. E São Vicente Ferrer, referindo-se particularmente à santidade de Maria, antes de Seu nascimento, diz que excedeu a de todos os Anjos e Santos.


Alegremo-nos, portanto, com a nossa amável Menina, que nasce tão santa, tão cara a Deus, e cheia de graça. e alegremo-nos não só por Ela mas também por nós. Pois veio ao mundo enriquecida de graça tanto para a glória como para o bem nosso.


Adverte Santo Tomás que de três modos foi cheia de graça a Santíssima Virgem.

· Na alma, porque desde o princípio Sua bela alma foi inteiramente de Deus.

· No corpo, pois que de Sua puríssima carne mereceu revestir o Verbo Eterno.

· Finalmente o foi em nosso comum benefício, para que todos os homens pudessem participar da Sua graça.



Alguns santos, ajunta o Doutor Angélico, possuem tanta graça que não só lhes basta a eles, como é suficiente para salvar a muitos, ainda que não a todos os homens. Só a Jesus e a Maria foi dada tão abundante graça, que seria suficiente para salvar a todo o gênero humano. Por isso S. João diz de Jesus Cristo: Nós todos temos recebido de Sua plenitude (Jo 1,16). De Maria afirmam também a mesma verdade. S. Tomás de Vilanova, por exemplo, escreve: Ela é cheia de graça e de Sua plenitude recebem todos. E assim – afirma Pacciucchelli – não há quem não participe da graça de Maria. Quem existiu jamais no mundo, pergunta ele, a quem Maria não tenha sido tão benigna, ou não haja dispensado alguma misericórdia? É preciso notar, porém, que recebemos a graça de Jesus Cristo, como de Seu autor, e de Maria como medianeira; de Jesus como Salvador, de Maria, como advogada; de Jesus, como fonte, de Maria, como canal.


Eis o motivo por que S. Bernardo diz que Deus constituiu Maria qual aqueduto das misericórdias, que quer dispensar aos homens. Encheu-Se de graça, para que de Sua plenitude cada um recebesse sua parte. À vista disso o Santo exorta-nos a considerarmos com que amor quer o Senhor que honremos essa grande Virgem, na qual colocou todos os tesouros de Sua riqueza. Fê-lo assim, a fim de que quanto temos de esperança, de graça e de salvação, tudo agradeçamos à nossa amantíssima Rainha. Pois tudo nos provém de Suas mãos e pela Sua intercessão. Infeliz da alma que, descuidando-se de se recomendar a Maria, se fecha assim este canal de graças! Holofernes, quando quis apoderar-se da cidade de Betúlia, procurou cortar-lhe os aquedutos. E isto faz também o demônio quando quer tomar posse de uma alma: fá-la abandonar a devoção a Maria Santíssima. Fechado este canal, perderá ela facilmente a luz, o temor de Deus, e enfim a salvação eterna.


Leia-se o seguinte exemplo, no qual se verá quanto seja grande a piedade do Coração de Maria, e a ruína que chama sobre si quem, abandonando a devoção a esta Rainha do Céu, se fecha este canal.

 

EXEMPLO


Viviam em Madri dois rapazes que levavam uma vida bem desregrada. Um deles sonhou certa noite que via seu amigo agarrado por uns homens negros e atirado num mar tempestuoso. O mesmo lhe queriam fazer a ele. Mas o moço no seu desespero recorreu a Maria, prometeu entrar para um convento, e os malvados o largaram então. Viu o infeliz como o Salvador, cheio de cólera, estava assentado sobre um trono e como a Santíssima Virgem Lhe implorava a misericórdia. Encontrando-se com o amigo, contou-lhe depois o sonho que tivera. Mas o amigo se riu do sonho e dele fez pouco caso. Entretanto, pouco tempo depois, tombava apunhalado por uns assassinos. Vendo o outro como se ia realizando o sonho, foi confessar-se, renovou o propósito de ingressar numa Ordem e vendeu por isso seus haveres. Em vez de dar aos pobres o lucro apurado, como tal prometera, esbanjou-o com más companhias e nos vícios. Em consequência do que adoeceu seriamente e de novo teve outro sonho no qual viu o Inferno aberto, que o esperava, e o Juiz condenando-o ao suplício. Novamente recorreu a Nossa Senhora e Ela outra vez o atendeu. Sarou de fato, mas recaiu em vícios ainda mais vergonhosos. Partiu para Lima, no Peru, e aí adoeceu, vindo parar num hospital. Deus tornou a compadecer-se do infeliz, que se confessou com um padre jesuíta, chamado Francisco Perlino. Fez solene promessa de mudar de vida, mas não guardou a palavra. Indo certa vez o referido sacerdote visitar uma Santa Casa, muito distante de Lima, nela encontrou o nosso infeliz rapaz, deitado no chão. E dele ouviu estas horríveis palavras: Desgraçado de mim! Para meu maior sofrimento vem agora justamente esse padre, que vai ser testemunha do meu castigo. De Lima vim para cá, levando sempre uma vida infame, a qual me atirou na mais horrenda miséria e me leva já para o Inferno!


Com estas palavras expirou, sem que tivesse o padre tempo de o assistir.


 

ORAÇÃO

Ó santa e celeste Menina, Vós que sois a Mãe destinada ao meu Redentor, e a grande medianeira dos míseros pecadores, tende piedade de mim. Eis aqui aos Vossos pés outro ingrato, que a Vós recorre e implora compaixão. É certo que eu, por minhas ingratidões para com Deus e para Convosco, mereceria ser abandonado por Deus e por Vós. Mas eu ouço dizer, e assim creio, que Vós não recusais ajudar quem com confiança a Vós se recomenda. Assim o creio por saber quanto é grande a Vossa misericórdia. Ó criatura, a mais sublime do mundo, já que acima de Vós não há senão Deus, e diante de Vós são mui pequenos os grandes Céus; ó Santa dos Santos, ó Maria, abismo de graça e cheia de graça, socorrei um miserável, que a perdeu por sua culpa. Sei que sois tão cara a Deus que Ele nada Vos nega. Sei também que gostais de empregar Vossa grandeza em aliviar os miseráveis pecadores. Eia, pois, mostrai quanto é grande o crédito que tendes junto a Deus, e impetrai-me uma luz, uma chama divina tão poderosa, que de pecador me mude em santo. Desprendei-me de todo afeto terreno para que eu me abrase todo no divino amor. Fazei-o, Senhora, que bem podeis fazê-lo. Fazei-o pelo amor d’Aquele Deus que Vos fez tão grande, tão cheia de poder e de piedade. Assim espero. Amém.


- Santo Afonso Maria de Ligório


 


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